A Geração Ferida
Até concordo com as más línguas que afirmam por aí que nossa geração está ferida. Isso mesmo ferida, não gosto do termo perdida. Baseado na multiplicidade de caminhos trilhados, criados e refeitos por nossa juventude não é possível afirmar tamanho absurdo. Perdidos? – Nós somos os exploradores, apontamos as direções! Estamos inovando, criando e propondo novas fórmulas para solucionar um problema que não foi causado por nós. – Por isso uso este outro termo, mais humano e próximo da realidade: Nossa geração está Ferida, amputada.
Tiraram de nós os alicerces chaves na construção de um sujeito íntegro, humano e politizado. Essa amputação é fruto de um processo histórico e não foi causada pelos jovens de nossa década, somos apenas o resultado de um movimento maior e carregamos o peso das consequências deste.
As famílias na contemporaneidade reduziram-se a números mínimos e seus integrantes foram substituídos por fetiches do mundo pós-moderno. O pai: o google. A mãe: a TV. Jogos eletrônicos e demais futilidades tecnológicas tomam o espaço dos irmãos que jogavam bola na rua, soltavam pipa e escalam as árvores do quintal. O quintal hoje em dia são os RPG’s com seus cavaleiros e suas armaduras premium, conquistadas via débito online, pago pelo pai ausente na tentativa de suprir o vazio.
Não encontramos mais pais e filhos com bicicletas nas ruas, quedas e joelhos ralados. Hoje, carros possantes, elétricos e velozes, surgindo em telas de plasma com dezenas de polegadas e função touch screen, são a distração. Com computadores potentes e seus volantes usb somos privados de lidar com a existência do outro. Somos privados de relações. Não conseguimos mais viver em comunidade. O homem tornou-se máquina, o corpo potencializado, medido, quantificado, otimizado e produtivo, ou ainda, produto, vendido e descartável? A calçada de casa, agora é conhecida como facebook, as pessoas tornaram-se profiles nas relações cibernéticas de existências que se conectam.
Tiraram da gente a possibilidade de viver aqui e agora, de sermos autênticos, verdadeiros para conosco e com o outro. Hoje somo expectadores e vivemos na expectativa, o púbico que apenas assiste. Nossas vivências são mais psíquicas que físicas, são imaginárias, fantasiosas. Será? A geração ferida está aí para romper esta crença.
Conheço de perto as deficiências de nossa geração e não venho aqui negá-las. Conheço também o argumento daqueles que nos culpam afirmando que “passeamos pelo romantismo utópico da época das revoluções e regredimos novamente”, exatamente por isso me ponho a defender a geração qual faço parte. A geração do improviso, da criatividade, da arte, do empreendedorismo, do “se virar e criar”, do ressignificar, do fazer diferente com o que fizeram de nós. Fomos jogados em meio a um processo histórico caótico, confuso, quebrado, desiludido e desenfreado. E apesar do contexto conseguimos harmoniosamente propor um estilo de vida, apontar saídas e novas elaborações.
Continuo a discordar daqueles que apontam o dedo pra juventude e nos culpam, estigmatizando-nos como o “problema”. Somos a solução! É fato que temos lá nossas mazelas, mas como citado acima caros amigos à historicidade que nos constitui é inegável e o progresso é um processo.
Vá Além!